A relação entre o Botafogo e Artur Jorge, treinador que levou o clube aos títulos do Brasileirão e da Libertadores em 2024, chegou ao fim de forma conturbada. O técnico aceitou a proposta do Al-Rayyan, do Catar, encerrando sua passagem de nove meses à frente do Glorioso. O desfecho, marcado por tensões e falta de comunicação clara, deixou marcas nos bastidores do clube.
Contato inicial e divergências de versões
A aproximação do Al-Rayyan com Artur Jorge ocorreu em outubro, antes da semifinal da Libertadores contra o Peñarol. De acordo com o empresário do treinador, Hugo Cajuda, o Botafogo foi informado sobre o interesse qatari. No entanto, dirigentes alvinegros afirmam que a comunicação foi superficial e não formalizada. Com uma multa rescisória fixada em 2 milhões de euros (R$ 12 milhões), o pagamento integral seria suficiente para a liberação do treinador, mas a falta de clareza gerou incômodos.
Nos meses seguintes, a relação entre Artur Jorge e o Botafogo esfriou. Fontes próximas ao treinador relatam que a postura passiva da diretoria em relação às propostas do Catar foi interpretada como falta de interesse na permanência. Por outro lado, o clube se mostrou contrariado com o que considerou uma tentativa do técnico de pressionar por aumento salarial, utilizando a oferta estrangeira como barganha.
Desgastes nos bastidores
Entre os pontos de atrito, o salário de Artur Jorge gerou desconforto. Ele acreditava que deveria receber valores semelhantes aos de outros treinadores portugueses vinculados a John Textor, como Luís Castro e Bruno Lage. Apesar de ter recebido cerca de R$ 17 milhões em bônus pelos títulos conquistados, Artur desejava uma valorização salarial fixa. Essa reivindicação, porém, nunca foi discutida diretamente com Textor, dono da SAF do Botafogo, o que aumentou o distanciamento entre as partes.
A situação se agravou após a derrota para o Pachuca, do México, nas quartas de final da Copa Intercontinental. No vestiário e durante o voo de retorno ao Brasil, o treinador não escondeu que já avaliava os detalhes da proposta qatari. Declarações públicas de Artur, deixando seu futuro indefinido, também irritaram a diretoria.
Fim da relação e novos rumos
Apesar de o Botafogo estar disposto a aumentar a multa rescisória e a duração do contrato de Artur Jorge, a sensação interna era de que a decisão de deixar o clube já havia sido tomada. O treinador participou de parte do planejamento para 2025, mas a falta de comunicação direta com Textor foi decisiva para o rompimento.
Agora, o Botafogo volta suas atenções ao mercado em busca de um substituto para comandar a equipe na próxima temporada. Enquanto isso, Artur Jorge deve assumir o Al-Rayyan, encerrando sua marcante, mas turbulenta passagem pelo futebol brasileiro.