A verdade é que o que o Brasil fez na última quinta-feira, dia 4 de setembro no Maracanã, foi uma pequena memória do que foi o estádio décadas atrás. Antes, vamos, obviamente, começar pelo começo.
O começo foi bem promissor. A seleção, apresentou um futebol que as quase 60 mil pessoas estavam esperando de uma pentacampeã do mundo: para cima, encurralando a frágil seleção chilena em seu campo. Água mole, pedra dura… Brasil 1 a 0.
Após chute de Raphinha pela esquerda, a bola desviou no goleiro, e Estevão, que acompanhava a trajetória, puxou uma meia-bicicleta para abrir o placar. Brasil 1 e Chile 0. Logo aos 4 minutos do primeiro tempo, Raphinha ainda havia colocado uma bola na cabeça do volante Casemiro, mas o gol foi anulado por um impedimento milimétrico marcado pelo VAR.
O jogo, que até o final do primeiro tempo e início do segundo estava bem controlado, passou a ser avassalador após as mexidas do técnico Carlo Ancelotti. João Pedro saiu para a entrada de Lucas Paquetá, e Estevão deu lugar ao ponta-direita Luiz Henrique. Os atacantes substituídos não comprometeram. Fizeram uma boa partida. Mas a verdade é que os que saíram do banco deram uma dose a mais de brilho e trouxeram uma certa sinergia entre torcida e seleção.
E é aí que voltamos ao início do texto. A seleção estava bem, mas faltava algo. Esse “algo” que faltava eram duas coisas que fazem parte do DNA do futebol brasileiro: drible e ginga. E Luiz Henrique trouxe consigo esses dois elementos.
Não me entendam mal, mas é difícil não reconhecer algumas semelhanças entre o ponta-direita que entrou ontem e um certo “Mané” que jogou um tempo atrás na mesma faixa de campo. Ambos pontas-direita, ambos nascidos no futebol carioca, ambos ídolos incontestáveis do mesmo clube. Ambos trouxeram alegria para o Maracanã, tendo seus nomes gritados pela torcida durante e no final da partida. São muitas as coincidências…
Logo após sua entrada, Luiz recebeu uma bola e, sem tomar conhecimento marcação chilena, driblou quem tinha para driblar e colocou uma bola açucarada — aquela do tipo “faz e me abraça” — na cabeça de Paquetá. 2 a 0 Brasil.
O segundo tempo continuou, e Luiz Henrique apareceu novamente. É curioso como ele consegue, ao mesmo tempo, ser um tanque fisicamente, mas parecer tão leve na hora de passar por um “joão”, ou melhor, na hora de passar por mais um marcador.
O terceiro gol não foi diferente: recebeu a bola, encarou, driblou, deixou um marcador estatelado no chão, e Bruno Guimarães só teve o trabalho de empurrar para as redes. O estádio veio abaixo; o grito “ah, Luiz Henrique” poderia ser ouvido até na montanha mais alta da Cordilheira dos Andes. O ponta convence e por alguns minutos, foi possível voltar no tempo, com a torcida rindo da forma como o ponta-direita da seleção deixou mais um estirado no chão.
Mané abençoou. Assinou as duas assistências do ponta, com toda certeza. Afinal, Luiz parece driblar no quintal de sua casa, sem compromisso com a “tática”, despreocupado, como um bom “Mané”… Enfim.
O Brasil vence. Com a vitória, se classificou para mais uma Copa do Mundo. A única seleção a estar presente em todas as Copas não poderia ficar de fora. Ano que vem, quem sabe, poderemos contar com a naturalidade e com a simplicidade que Luiz usa para executar seus dribles. Assim, quem sabe possamos sorrir com o mundo nas mãos novamente.
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