Como se não bastassem os problemas que o Brasil já vem enfrentando, eis que surge uma Copa América em nosso país.
Antes que você já me critique por estar escrevendo um texto “contra” a competição, quero deixar bem claro que a questão menos preocupante pra mim é a prática do futebol em si, pelo menos no atual cenário em que já estamos vivendo. Eu explico!
Os dois países que sediariam a competição seriam Colômbia e Argentina. Os colombianos já haviam sido descartados, pois o país vive uma tensão social que impossibilitava a realização do torneio, deixando a organização por conta dos “hermanos”. Mas, nesta segunda-feira, 31/05, os argentinos também abriram mão dessa responsabilidade para focar no combate a pandemia, criando assim a possibilidade do Brasil ser o novo receptor da Copa América 2021.
Diferente da Argentina, que está com seus campeonatos nacionais parados, o Brasil segue com suas competições em andamento, o que teoricamente mostra que não teríamos nenhum problema em sediar a Copa América, correto? Correto… relativamente.
Partindo do princípio que o Brasil está “funcionando normalmente” em relação as suas atividades e a prática do futebol, os jogos serem realizados aqui não seria um problema, pois as medidas exigidas – como as delegações serem vacinadas e a ausência de público – evitariam o aumento do contágio. Isso poderia estar certo se constantemente não víssemos essas bolhas sendo furadas e diversos times convivendo com surtos de Covid no elenco.
Dito isso, vou expor os meus pontos que me fazem acreditar que não deveríamos ter a Copa América no Brasil:
Do ponto de vista econômico, não traz grandes benefícios para o país, já que, normalmente, um dos benefícios de sediar um torneio internacional é o aumento da prática comercial gerada pelo aumento do turismo, o que não deve ocorrer, já que os jogos não terão torcida presente e as delegações serão limitadas a 65 pessoas. Talvez os interessados em trazer a competição tenham algo pingando em suas contas, mas o país em si, nada lucra.
Esportivamente falando, também não empolga, uma vez que a competição vem sendo disputada em demasia (2015, 2016 e 2019), e só teria essa edição para igualar ao calendário europeu com a realização da Eurocopa. Inclusive, mesmo o Brasil não sediando o torneio, ele já seria realizado, pois outros países se ofereceram para sediar a competição, como por exemplo o Chile, que tem cerca de 52% da população já vacinada com a segunda dose.
A Conmebol acionar a CBF, já que temos a estrutura necessária e estádios com pouco uso, como Arena Pantanal, Mané Garrincha e Arena das Dunas, não é algo de se espantar; porém essa imagem de que “aqui” tudo pode, me incomoda. O Brasil está longe de ser um exemplo de organização e menos ainda ao combate ao coronavírus, e você aceitar um torneio deste porte como se ficasse sem jeito em dizer “não” a uma visita de um familiar distante é no mínimo irresponsável e inconsequente.
A agilidade e “autonomia” do governo em dar o sinal verde para a Conmebol antes mesmo de se reunir oficialmente com os governantes dos estados que possivelmente receberiam jogos, e até mesmo a falta de sensibilidade de entender o momento que vivemos, mostra que o interesse político segue acima da saúde pública no país.
Aí eu pergunto a você leitor.
Será que o Brasil deveria buscar um novo torneio para sediar ao invés de focar no combate ao Covid como fez a Argentina?
Será que a melhor resposta para a chegada de uma nova onda da doença e uma média de 2 mil óbitos por dia é sediar uma Copa América?
O que vale mais, vidas ou ter uma taça sendo erguida no Maracanã?
Bom, eu não sei o que vocês pensam, mas independente de amar futebol, não há momento mais inoportuno para esta decisão.