Não importa qual seja a temporada, ou continente, o destino sempre reserva algumas de suas “peripécias” futebolísticas, e não seria diferente na temporada 2022/2023. Tudo bem, eu sei que estamos chegando somente a primeira metade da temporada, mas já dá para apontar alguns desvios do caminho da normalidade.
Com a temporada das principais ligas europeias chegando a sua metade, e os torneios europeus chegando a sua fase final, já temos um ótimo termômetro do que será a segunda metade do futebol no Velho Continente, que será mais longa por conta da Copa do Mundo do Catar, disputada no fim desse mês.
E com isso, vamos as surpresas:
Napoli – Itália
A Società Sportiva Calcio Napoli vem fazendo uma temporada fenomenal, tanto internamente quanto a nível Europa. Na Serie A, é a atual líder, invicta, com 32 pontos, 5 pontos à frente da vice-líder Atalanta. São dez vitórias e dois empates, com trinta gols marcados e somente nove sofridos. Na UEFA Champions League faz outra campanha acachapante, se classificando na primeira colocação do Grupo A, que possuía Liverpool, Ajax e Rangers. Foram cinco vitórias e uma derrota, 15 pontos marcados e a 2ª melhor campanha do torneio, somente atrás do Bayern de Munique, que venceu todos os seus jogos.
Em relação aos seus destaques, não podemos deixar de falar da surpresa dentro da surpresa, o ponta georgiano Khvicha Kvaratskhelia. Com 21 anos, o “Kvaradona”, como vem sendo chamado pela imprensa local, é a força motriz desse potente ataque napolitano, marcando oito gols e dando oito assistências nessa temporada. Outro grande destaque dessa equipe também está no ataque, Victor Osimhen, nigeriano, e autor de sete gols em oito jogos na Serie A, empatado com Arnautovic, do Bolonha, na artilharia do cálcio.
Para não dizer que o Napoli é só ataque, outros bons nomes da equipe são o meia polonês Piotr Zieliński, o lateral esquerdo português Mario Rui e o volante eslovaco Stanislav Lobotka.
Foto: Società Sportiva Calcio Napoli
Union Berlin – Alemanha
O FC Union Berlin até um tempo atrás era conhecido, pela maioria dos brasileiros, como o time do grande jornalista alemão erradicado no Brasil, Gerd Wenzel, e figurava nas divisões inferiores da Bundesliga, sendo o principal time da cidade o Hertha Berlin. Mas tudo começaria mudar na temporada 2018/2019, quando a equipe da capital alemã conseguiu, através dos playoffs da Bundesliga.2, subir para a divisão máxima da Alemanha, após empatar duas vezes com o Stuttgard mas vencer pelo critério de gols fora (2 a 2 em Stuttgard e 0 a 0 em Berlin).
As duas primeiras temporadas fora de afirmação, terminando em 11º colocado em 2019/2020 e 7º em 2020/2021, e na temporada passada já um grande salto, terminando na 5ª colocação e garantindo uma vaga na Europa League. Mas nem o mais otimista torcedor “Die Eisernen” iria imaginar esse início de temporada. O Union Berlin é o atual líder da Bundesliga, com 26 pontos, um ponto a mais que o vice-líder e todo poderoso Bayern de Munique, e vem com oito vitórias, dois empates e duas derrotas, tendo marcado vinte e um gols e sofrido somente nove, ou seja, o Union Berlin sofre, em média, menos de um gol por jogo na Bundesliga. Na Europa League fez uma campanha sólida (e invicta), passando para a próxima fase como 2º colocado do Grupo D, atrás somente da grande surpresa dessa Europa League, o Union Saint-Gilloise, da Bélgica. No torneio europeu foram seis vitórias e quatro empates, marcando quatro gols e sofrendo somente dois (marcou 12 pontos).
Como pode se observar, o ponto forte da equipe de Berlin é a defesa. E o grande pilar defensivo da equipe se chama Robin Knoche, zagueiro alemão de 30 anos, ex Wolfsburg, que atuando como o zagueiro por dentro (Union Berlin atua em linha de 3) comanda seus ótimos, e jovens, coadjuvantes Danilho Doekhi e Diogo Leite. Na parte da frente do time, o destaque fica para o atacante surinamense Sheraldo Becker, com sete gols e cinco assistências, sendo o maior artilheiro e assistente da equipe na temporada. Outro bom nome desse Union Berlin é o do meia alemão Janik Haberer, que é o responsável pela boa saída de bola da equipe, principalmente, pelo setor esquerdo.
Foto: FC Union Berlin
Club Brugge – Bélgica
A grande zebra dessa UEFA Champions League (inclusive fiz um texto sobre, confere lá), o Club Brugge KV apostou todas as suas fichas no sucesso continental, e vem dando bastante resultado, já que se classificou na 2ª posição do Grupo B da UCL, um ponto atrás do líder Porto, inclusive liderando o grupo até a última rodada. Para ilustrar o grande feito da equipe belga, o grupo era composto por Porto, Atletico de Madri e Bayer Leverkusen, sendo o Club Brugge forte candidato a “saco de pancadas” do grupo. Com ótimas vitórias contra o Porto, em Portugal, por 4 a 0, e contra o Atlético de Madri, em casa, por 2 a 0, mostraram que os “Blauw-Zwart” não estão para brincadeira. A sólida campanha de três vitórias, dois empates e apenas uma derrota não me deixam mentir. Foram sete gols marcados e somente quatro sofridos, todos eles na derrota para o Porto por 4 a 0 (os portugueses devolveram a goleada).
Na Belgian Pro League está em ascensão, já que até a classificação para a próxima fase da Champions League a equipe belga figurava na 6ª posição, e após confirmada sua ida as oitavas emendou três vitórias nos últimos 4 jogos, e agora já está na 3º posição, a um ponto do Royal Antwerp e a oito pontos do líder Racing Genk.
Os destaques dessa grande campanha passam pela espinha dorsal da equipe. O belga Simon Mignolet, ex Liverpool, é o goleiro com maior número de defesas na UCL, com 31 intervenções. Na linha, os destaques ficam para o zagueiro belga Brandon Mechele, 4º maior recuperador de bolas da Champions League, com 45 recuperações, para o meio campista belga Hans Vanaken, com cinco gols e duas assistências na temporada e para o atacante dinamarquês Andreas Skov Olsen, de apenas 22 anos, que possui sete gols e duas assistências nessa temporada.
Foto: Club Brugge KV
Freiburg – Alemanha
Conhecido como um clube “iô-iô” na Alemanha, o SC Freiburg tinha até música nos anos 90 sobre o fato de subir e descer de divisão: “Nós vamos para baixo, nós subimos, nós vamos para a Copa da UEFA! “. Esse efeito “sobe e desce” já não é frequente na vida do clube, que está na Bundesliga desde a temporada 2016/2017, com campanhas bem irregulares até a temporada 2020/2021. Na temporada passada, a equipe da região de Baden-Württemberg ficou com a 6ª colocação da Bundesliga, assim fazendo o clube disputar da UEFA Europa League dessa temporada (viu torcedores dos anos 1990!?).
E quem acha que o Freiburg iria abandonar a Bundesliga em razão da Europa League está muito enganado, já que o clube está “muito bem obrigado” nas duas competições. Na Bundesliga, a equipe ocupa a 3ª colocação, com 24 pontos, um a menos que o Bayern de Munique e dois a menos que o líder Union Berlin. São sete vitórias, três empates e duas derrotas, com dezoito gols marcados e treze sofridos na Bundesliga. No torneio continental faz uma campanha ainda melhor, atropelando o Nantes-FRA, Qarabag-AZB e Olympiakos-GRE no Grupo G, com quatro vitórias e dois empates, marcando treze gols e sofrendo somente três (2ª melhor defesa do campeonato, junto com Arsenal).
Muito do sucesso da equipe alemã vem de três jogadores: O zagueiro da seleção alemã Matthias Ginter, ex Borussia M’gladbach, o meia esquerda italiano Vicenzo Grifo, artilheiro da temporada com oito gols e o atacante austríaco Michael Gregoritsch, que junto com Matthias Ginter, são as maiores ameaças aéreas dessa SC Freiburg.
Outro ponto positivo do clube é a média de idade, 25.5 anos, assim possuindo uma boa base para as próximas temporadas, a fim de consolidar o Freiburg como um dos protagonistas do futebol alemão.
Foto: SC Freiburg
Royale Union Saint-Gilloise – Bélgica
Vamos a que poder ser a maior zebra dessa lista, o Union Saint-Gilloise, da Bélgica. A equipe de Bruxellas possui onze títulos belgas, porém, o último foi conquistado no longínquo ano de 1935. Até a Segunda Guerra Mundial foi uma grande equipe do futebol belga, ficando 60 jogos sem perder entre os anos de 1933 e 1935. Após a guerra, teve um breve período de sucesso europeu, jogando a Copa da UEFA, atual Europa League, entre 1958 e 1965, e alcançando as semifinais na edição de 1958/60 depois de uma vitória sobre a AS Roma. O clube foi rebaixado para a 2ª divisão na temporada de 1963, e chegou até a figurar em divisões inferiores nos anos 80.
Porém, a retomada a elite aconteceu na temporada passada, depois de derrotar o RWD Molenbeek por 2 a 1 em casa, o Union foi promovido de volta à Primeira Divisão A da Bélgica. Isso marcou sua primeira aparição na primeira divisão desde 1972. E a magia já começou na sua 1ª temporada na elite, terminando a Belgian Pro League em 1º lugar, se tornando o único clube recém promovido a terminar a temporada na ponta da tabela. No play-off dos campeões, o Union terminou em segundo atrás do Club Brugge e, assim, se classificou para as pré-eliminatórias da Champions League dessa temporada pela primeira vez na história do clube.
Na pré Champions a equipe foi eliminada pelo Rangers-ESC, com um placar agregado de 3 a 2 para os escoceses, assim indo disputar a Europa League. E a campanha da Europa League é que trouxe a equipe belga a essa lista. Com uma campanha irretocável, a equipe passou a próxima fase da Europa League após ficar em 1º no Grupo D, grupo esse com Union Berlin-ALE, Braga-POR e Malmo-SUE. Foram treze pontos marcados, com quatro vitórias, um empate e uma derrota, marcando onze gols e sofrendo sete. Na Belgian Pro League dessa temporada o Union Saint-Gilloise mantém a boa campanha da temporada passada, estando na 4ª colocação com 32 pontos, oito atrás do líder Racing Genk.
Os destaques da equipe são o meia maltês Teddy Teuma, um dos cérebros da equipe, o atacante belga Dante Vanzeir, artilheiro da temporada com oito gols e o zagueiro inglês Christian Burgess, um dos pilares defensivos da equipe.
Foto: Royal Union Saint-Gilloise
Midtjyland – Dinamarca
Apesar de um clube muito jovem (possui apenas vinte três anos), o Football Club Midtjylland já pode se considerar um dos principais clubes da Dinamarca. Com 3 títulos da Superliga Dinamarquesa (2014/2015, 2017/2018 e 2019/2020) e 2 da Copa da Dinamarca (2018/2019 e 2021/2022), o Midtjylland ainda está longe dos gigantes FC Copenhague (maior vencedor com 14 títulos da Superliga Dinamarquesa) e Brøndby IF em glórias, mas já é uma das referências no futebol dinamarquês, inclusive possuindo uma famosa academia para jovens talentos.
Bem, essa temporada na Superliga Dinamarquesa não está sendo das melhores, já que está na 8ª colocação, com cinco vitórias, seis empates e quatro derrotas, porém, se comparar com seus rivais diretos, o FC Copenhague (6º) e Brøndby IF (10º), a temporada não parece de todo mal. O líder é o surpreendente FC Nordsjælland.
Mas a coisa muda de figura na UEFA Europa League, em que se classificou para a próxima fase após ficar em 2º no bizarro Grupo F, em que todos fizeram oito pontos. Porém, o critério de desempate era o saldo de gols, assim eliminando a poderosa Lazio da Europa League. A equipe dinamarquesa só não passou em 1º colocado devido ao fato do Feyenoord, que tinha o mesmo saldo do Midtjylland, ter feito um gol a mais que os dinamarqueses, treze a doze.
O motivo da boa temporada europeia fica por conta do bom equilíbrio defensivo da equipe, com destaques para zagueiros Erik Sviatchenko e Juninho, ex Palmeiras e Bahia. No lado ofensivo do campo o grande destaque é o meia brasileiro Evandro, ex Vasco da Gama, com 4 assistências e 1 gol na Europa League.
Foto: Football Club Midtjylland
