A derrota do Botafogo para o Pachuca na Copa Intercontinental não é apenas um revés esportivo para o clube carioca, mas uma amostra clara dos problemas estruturais do futebol brasileiro. O intenso calendário, somado a viagens longas e desgastantes, foi um dos fatores que comprometeram o desempenho do alvinegro. Após conquistar o título brasileiro e disputar partidas decisivas, a equipe enfrentou 15 horas de viagem, noites mal dormidas e um fuso horário desfavorável, chegando sem a preparação ideal para competir em alto nível.
Essa situação reflete um problema recorrente. A quantidade excessiva de jogos no Brasil sobrecarrega os times, impedindo que cheguem em condições ideais a torneios internacionais. Para o Botafogo, foram 75 jogos no ano contra 49 do Pachuca, demonstrando um abismo na organização e planejamento. Esse desgaste, combinado com o crescente equilíbrio entre os clubes da América Latina e outros continentes, ressalta a urgência de ajustes estruturais.
Impacto global e comparativo com o futebol europeu
A eliminação do Botafogo reforça a dura realidade enfrentada pelos clubes sul-americanos no cenário global. Desde o título do Corinthians em 2012, times da América do Sul frequentemente sucumbem diante de adversários de outros continentes, o que evidencia o distanciamento técnico e financeiro em relação à Europa. Enquanto o futebol europeu concentra os melhores talentos e recursos, os times brasileiros lidam com um calendário sufocante que compromete seu desempenho internacional.
A globalização, que aproxima forças na “periferia” do futebol, também escancara a necessidade de maior competitividade. Com torneios como o novo Mundial de Clubes à vista, a programação de jogos no Brasil continua gerando desafios logísticos e físicos. Em 2025, datas como as eliminatórias da Copa do Mundo, partidas do Campeonato Brasileiro e a estreia no Mundial já criam um cenário de maratona para os clubes envolvidos, como Palmeiras e Botafogo.
Avanços no calendário ainda são insuficientes
Apesar de ajustes recentes, como o início antecipado do Brasileirão e a redução de datas para estaduais, o número total de compromissos permanece alto. Em 2025, times bem-sucedidos podem enfrentar até 80 jogos na temporada, enquanto adversários internacionais disputam muito menos. Isso gera um desequilíbrio evidente, dificultando a competitividade dos clubes brasileiros.
A necessidade de um calendário mais racional é urgente. A coincidência de datas do Brasileirão com eventos internacionais, como a final do Mundial de Clubes, é um exemplo claro das falhas de planejamento. Para que os clubes brasileiros possam competir de igual para igual no cenário global, é preciso romper com estruturas políticas que priorizam interesses regionais em detrimento da evolução do futebol nacional.
Reflexões para o futuro do futebol brasileiro
A derrota do Botafogo encerra uma temporada histórica, mas também deixa lições valiosas. A carga excessiva de jogos e a falta de planejamento adequado impedem que o futebol brasileiro alcance seu potencial máximo. Reformas estruturais são essenciais para equilibrar o calendário e preparar os clubes para enfrentar adversários internacionais.
É preciso coragem para romper com modelos ultrapassados e estabelecer um sistema que priorize a qualidade, e não a quantidade de jogos. Assim, o futebol brasileiro terá condições de voltar a ser protagonista no cenário global, representando de forma competitiva o país em torneios internacionais.