A Supercopa do Brasil é a competição que reúne os campeões das duas maiores competições nacionais. Quando colocamos frente a frente as duas equipes que tem dominado o continente sul-americano nos últimos anos, não podemos esperar nada diferente de um grande jogo de futebol. E tivemos!
Flamengo e Palmeiras protagonizaram uma final com todos os ingredientes que faz os torcedores assistirem sem parar quieto no sofá: golaço no primeiro minuto, gol salvo em cima da linha, virada, polêmica, confusão, pênalti marcado e anulado, pênalti marcado e validado, empate e, por fim, decisão nos pênaltis para cardíaco nenhum colocar defeito.
O juiz mal tinha recuperado o fôlego do apito inicial e após uma “espanada” desnecessária de Diego Alves, Felipe Melo tocou de cabeça para Raphael Veiga fazer uma pintura de deixar o Willian Arão sem saber onde pendurar o quadro. Um drible da vaca com o calcanhar e um chute no canto para abrir o placar a favor do Verdão. Se alguém achou que assistiria o jogo bocejando, ali os olhos se arregalaram.
O jogo continuou com muita emoção e chances para os dois lados, até que Filipe Luís invadiu a área, e com um belo drible tirou Gustavo Gómez da jogada para ficar cara a cara com Weverton; e se goleiro bom tem que ter sorte, centroavante iluminado tem que ter mais ainda. Após o chutou do lateral rubro-negro acertar a trave, a bola se ofereceu para Gabigol empurrar para as redes e deixar tudo igual no placar. 1×1. Empate com ingrediente que deixou a final ainda mais especial: Gabigol chegou a 74 gols em 106 jogos com a camisa do Flamengo, se tornando o maior artilheiro do clube no século XXI.
Provavelmente, no primeiro gol do Palmeiras, os flamenguistas mais enfáticos já estavam “cornetando” Rogério Ceni pela escolha em pôr Arão na zaga, deixando o time sem um volante de marcação; mas os mesmos torcedores deram graças a Deus pela presença de Diego em campo quando Breno Lopes recebeu sozinho, driblou o goleiro e com gol aberto viu sua glória virar desespero com o corte em cima da linha feito pelo camisa 10 do rival.
Após a pausa para hidratação – que confesso também estar precisando neste momento – o Palmeiras seguiu pressionando e surgiu a primeira polêmica do jogo: Isla derrubou Wesley na entrada da área e a primeira marcação de Leandro Vuaden é de pênalti. Lance checado pelo VAR, e decisão alterada para falta fora área. A essa altura os ânimos já estavam à flor da pele, Abel Ferreira já havia sido expulso, e nem chegamos no segundo tempo.
Quem também não chegou na etapa final foi o placar de 1×1, pois o uruguaio, De Arrascaeta, acertou um chute colocado de fora da área que fez o melhor goleiro brasileiro em atividade parecer um boneco pregado no chão. Virada que fez o Flamengo ir para o intervalo com vantagem.
O primeiro tempo já tinha tido emoção pra deixar a final da Libertadores de 2020 morrendo de inveja, e olha que ainda restava muito jogo pela frente. Atrás no placar, o alviverde paulista começou a mexer as peças e Gabriel Verón, com apenas três minutos em campo, quase empatou a partida. Uma cabeçada daquelas que no replay era capaz de entrar.
Lá e cá em oportunidades até que Rodrigo Caio, de forma mais que infantil, puxou Rony na área e fez Leandro Vuaden marcar, e confirmar, o pênalti a favor do Palmeiras. Veiga foi para a cobrança e igualou novamente o placar.
Com o empate o Palmeiras parecia mais confiante em levar a disputa para as penalidades e o Flamengo tentava decidir com a bola rolando. Vitinho e Gabigol obrigaram Weverton a fazer grandes defesas e contar com a sorte em ver a bola quase atravessar a linha da meta, gerando a segunda polêmica do jogo, porém mais uma vez com o desfecho correto.
Fim do tempo regulamentar e o campeão viria nas penalidades!
Se os goleiros já foram destaques durante toda a partida, chegaria a hora de assumir de vez o protagonismo na decisão. Do lado palmeirense, Weverton se consolidando como o melhor goleiro do Brasil. Do lado rubro-negro, Diego Alves com experiência e um histórico em defesas de pênaltis de fazer qualquer batedor tremer na base.
Começam as cobranças e após Filipe Luís e Matheuzinho desperdiçarem suas cobranças, e seu 100% de aproveitamento, o Palmeiras viu o caminho livre para sagrar-se campeão. Bastava Luan ou Danilo acertarem suas batidas e a taça, que foi do Flamengo em 2020, mudaria de mãos.
Pois bem, foi aí que Diego Alves tirou a mochila das costas e mostrou toda sua bagagem. Defesa no chute do zagueiro, e uma catimba que entrou na cabeça do garoto palmeirense fazendo-o errar, até então, sua decisiva cobrança. Gabigol, com gelo no sangue, fez o seu e recolocou o Flamengo na disputa.
“Haja coração!” – diria o narrador encarregado. Cobranças alternadas e outro Gabriel, o Menino, parou no goleiro do time carioca e mudou o poder de decisão para o lado do Flamengo. Era Pepê – que havia entrado na vaga de Gérson – fazer seu papel e correr pro abraço. Não fez. Weverton voou no canto para defender a cobrança e voltamos à estaca zero.
O que não sabíamos é que o roteiro dessa final daria uma volta imensa. Rodrigo Caio, o mesmo que fez um pênalti bobo e permitiu que o jogo chegasse até aqui, foi o responsável pela cobrança que valeria o bicampeonato para o Flamengo após Diego Alves pegar mais uma, dessa vez do lateral, Mayke.
O destino recolocava zagueiro e goleiro campeões olímpicos pela seleção brasileira, em uma decisão por disputa de pênaltis, só que dessa vez cada um defendendo as suas cores.
Melhor para o zagueiro, que com um chute no canto, deixou Weverton e toda a torcida do Palmeiras estáticos, sem acreditar que a taça o havia escapado.
Uma final com cara de final, Flamengo Bicampeão da Supercopa do Brasil e o futebol brasileiro voltando a respirar!