O cemitério das emissoras esportivas no Brasil preenchem mais dois jazigos abertos pela The Walt Disney Company. À primeira hora desta Segunda-Feira, dia 17 de Janeiro de 2022, os canais ESPN Brasil e Fox Sports deixam de adotar as tais nomenclaturas para adequar aos padrões impostos pela ESPN Latin America e pela matriz em Bristol-EUA.
Pela ilustração abaixo, você pode ver as mudanças. A ESPN Brasil torna-se ESPN, a ESPN torna-se ESPN 2, a 2 torna-se 3 e o Fox Sports é descontinuado e transforma ESPN 4. Os canais ESPN Extra e, curiosamente, o Fox Sports 2 continuam com seus nomes intactos.
O único detalhe que o “Mickey Mouse” não percebeu é que as marcas ESPN Brasil e Fox Sports ficaram consolidadas na mente do “fã de esporte” que assina os canais. Afinal, nos 27 anos da primeira marca (curiosamente, a idade deste que vos escreve) e dos 10 anos do antigo braço esportivo da extinta Fox Latin America, os programas e eventos esportivos presentes nestes canais cercam o imaginário do torcedor e eram sinônimos de acompanhamento do Futebol Internacional e Sul-Americano em TV Fechada.
Nas canoplas triangulares dos microfones dos correspondentes internacionais, a ESPN Brasil mostrava sua identidade e diferenciava-se dos demais canais, inclusive da ESPN dos outros países.
João Castelo Branco, Dudu Monsanto, Natalie Gedra e José Renato Ambrósio empunharam o microfone que dava até um ar de rebeldia daquela ESPN Brasil comandada por José Trajano. A marca também tinha como diferencial o zelo pela notícia e pelas histórias do Futebol por todo país.
Caravana do Esporte, Histórias da Bola com Helvídio Matos, O Brasil da Copa do Brasil e Pontapé Inicial, além dos consagrados programas de debate Linha de Passe (que deu origem ao Resenhando, aliás) e Bate-Bola marcavam o DNA “Trajanista” que diferenciava-se de seu principal rival à época, o SporTV, por não restringir-se a mostrar apenas as notícias esportivas e os gols da rodada, mas sim estimular seu público a refletir e enriquecer sua cultura, leitura e informação.
O final da “Era Trajanista” começou por sua demissão vinda através da chegada de João Palomino à Gerência de Programação do canal e realocando José Trajano apenas aos comentários nos debates e transmissões esportivas, tirando o poder que o jornalista tinha na emissora. Mas esta é uma conversa para outro artigo…
Por outro lado, o Fox Sports apostou na Contra-Mão da concorrência na TV Fechada ao Contratar Edu Zebini, Ex-Diretor de Esportes da Record e consagrado por dirigir os programas Debate Bola e Terceiro Tempo, ambos apresentados por Milton Neves.
Com a missão de consolidar-se no mercado esportivo na TV, o Fox Sports teve como trunfo os noticiários dinâmicos como o Fox Sports de Primeira, os Debates acalorados e ríspidos, como o sucesso Fox Sports Rádio.
As grandiosas coberturas dos Jogos da Conmebol Libertadores, ocupando de 10 a 12 da programação do canal faziam o torcedor imergir nas partidas transmitidas pela Fox, seja nos dois canais esportivos, seja no canal de Filmes e Séries de Ação FX que era utilizado para presentear os assinantes de TV não contemplados com os canais Fox Sports.
Com a fórmula de Canal Esportivo Popular, os novos assinantes de TV, em sua maioria da “nova classe média” gostaram da proposta do Fox Sports, que foi visto como canal de transição de Linguagem de sinal Aberto para sinal Fechado e isto angariou gigantescas audiências para o canal, ultrapassando a ESPN, o Esporte Interativo e encostando no SporTV.
O episódio mais triste da emissora e que aproximou ainda mais seu público foi o Acidente Aéreo que vitimou a delegação da Chapecoense, finalista da CONMEBOL Sul-Americana de 2016, que viajava para Medellín. Dentre os escalados para a partida, nenhum integrante da Fox sobreviveu, e dentre os mais famosos que nos deixaram foram Deva Pascovicci (Narrador), Paulo Júlio Clement (Comentarista), Victorino Chermont (Repórter) e Mário Sérgio (Comentarista, Ex-Jogador e Ex-Técnico)
Apesar do sucesso da Emissora na América Latina, no mercado dos Estados Unidos a Walt Disney Company compra as ações e vira sócia majoritária da 20th Century Fox, da Marvel e da Fox International Group, adquirindo assim o controle do Edifício na Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio de Janeiro, da Marca Fox Sports Brasil e das finanças da Emissora.
Aliado ao agravamento da crise vinda de um superávit na cobertura da Copa do Mundo da Rússia, o Fox Sports tinha dois caminhos: Ou todo seu patrimônio seria vendido para um novo dono, ou a fusão com a ESPN aconteceria. A Media Pro até chegou a demonstrar interesse, mas os altos custos da dívida espantaram os investidores espanhóis, com isso, na virada de 2019 para 2020, a maior fusão entre emissoras aconteceu na América Latina, causando novos cardápios de transmissões pra ESPN e centenas de Demissões.
Até mesmo a icônica música, adaptada em versão Samba, do Tema “NFL on Fox” caiu nas graças do torcedor, tocada em alto volume após os gols teve que ser devolvida à News Corp. frustrando ainda mais os admiradores do canal. Relembre abaixo como era a vinheta:
Por mais bizarro que pareça, por força de contrato com a Conmebol, o Fox Sports 2 ficará no ar por mais um ano com o nome e logo intactos. A única diferença é que a Disney não poderá utilizar a cor azul.
Após a Fusão, dois anos se passaram e o público já estava se acostumando à zona de transição das emissoras e o fim do Fox Sports. Até mesmo o Bordão “Juntos na Torcida” já era corriqueiro ao fã de esportes.
Porém, em Dezembro de 2021 foi anunciada a substituição do nome do canal ESPN Brasil para ESPN, a fim de padronizar os canais a mando da Matriz. Durante uma semana, a mudança foi anunciada, e quando ela aconteceu, não houve uma vinheta de despedida:
Sabemos que na mesa de negociação, as marcas mais fortes terão mais poder de barganha e prestígio ao utilizar um renome global frente ao nacional. No entanto, o fim de empresas consolidadas em plena saúde financeira e operacional e, a mudança ou extinção da marca ser feita apenas por questão estética, arranha a credibilidade e a confiança que tais corporações têm com seus principais consumidores.
Sem contar o canal ESPN Extra, que com a fusão com o Fox Sports, exterminou a ideia de canal à la Carte e virou um produto de 24 horas de exibição de Reprises.
Com esta decisão, infelizmente, o Grupo Disney corre o risco de induzir os fãs de Esporte a ter repulsa de seus produtos e pouco a pouco deixar de consumir suas plataformas. Ou pior, ainda consumir, porém de forma ilegal.